A cafeteria da Rua 78.
Há quase quatro décadas a cidade fora presenteada com a
chegada das indústrias. A revolução industrial trouxe para Santa Ana, fundada
há meio século, os cafeicultores. Até então a cafeicultura foi uma das principal fontes de
renda e industrialização de todo o Condado, cerca de vinte por cento do que era produzido no país vinha de nossas lavouras.
Quando em 1870 a família portuguesa Guilhermo chegou à
cidade, a Rua 78 ainda estava sendo construída, seria uma das principais ruas e
também agregaria todo o comercio da cidade em comemoração a agregação de Santa
Ana ao estado da Califórnia.
Os donos de grandes dotes logo se aprumaram para comprar
terras e construir de pronto suas lojas. Eram lojas de roupas, perfumarias, hotelarias,
bares e até mesmo barbearias. Jovens não eram bem quistos por estas bandas. Para
os veteranos: todo e qualquer jovem deveria estar em universidades, faculdades
por outros cantos do país, e só retornariam já doutores, senhores de terras ou
com algum tipo de mestrado.
Um dos Guilhermos, o senhor Tonico Boa Praça, decidiu então
criar um local onde só os jovens pudessem desfrutar. Um lugar para se discutir
ideais revolucionarias como os de antigamente; embora o tempo de repreção por
parte do governo já havia se esvaído por aquelas épocas, portanto, nada havia
de temer. Criou-se então a primeira Cafeteria da cidade e em 1878 foi inaugurada
a famosa rua, que fora batizada de 78 justamente por conta da data de sua
inauguração: 07/08/1878.
A cafeteria já estava instalada, existiam poucas naquela
época, hoje já existe um numero bem maior, principalmente na America latina.
Pois assim foi feito, dali para os tempos em que relato meus devaneios, a
cafeteria já estava famosa, só as frequentavam os jovens de famílias médias e
ricas, e era o principal ponto de encontro da boa idade.
Um dos prisioneiros de guerra, o Sr. Frederico Sanches,
mexicano nativo e oprimido pela guerra de 1848, refugiou-se com sua família para
Orange, e aqui achou a oportunidade perfeita de emprego, trabalhou para a família
Guilhermo desde a inauguração da cafeteria, e logo após a morte de Boa Praça,
herdou o estabelecimento.
Hoje há mestiços e nativos debatendo e unindo ideias
revolucionarias como fora previsto pelos antigos donos do local. Lá conheci Diego
Candido, um mexicano de família americana, enquanto ele ainda concluía o ultimo
período da faculdade de direito junto aos meus outros amigos. Eu já havia
desistido da carreira judiciária e ingressado na imprensa. Candido fora um bom
amigo, azarávamos as garotas juntos e debatíamos ideias políticas futuras,
chegamos até mesmo a pensar em um novo sistema de ordem mundial!
Era engraçado nossas ideias malucas, mas o que mais admirava
neste meu velho amigo, era seu espírito visionário. Ele não só tinha
pensamentos iguais a mim, como também, ideias melhores. “Deverias ter seguido a
carreira no magistrado, creio que seria de bom proveito para você e talvez a uma futura família” –Dizia ele. Como bom
amigo, ele sempre me incentiva a querer construir uma família. “- Oras! Um
homem não é um homem completo se não tiver a quem sustentar.”
Quando conheci Sherry, foi ali mesmo, naquela cafeteria. A
primeira vez que a vi entrar por aquela porta vermelha, e escutei o tilintar do
pequeno sino, que avisava a entrada de mais um cliente, enchi meus olhos! Que
linda!
- Então, esta ai! Vamos homem! Não demores a admirar uma
obra, se não queres compra-la do que adianta apenas observar? Observar é para
os críticos, paras os urubus. Toque-a, sinta-a, talvez assim Monalisa tivesse
de fato alguma graça. Shakespeare morreu de desgosto porque não pôde tocar em
Julieta!
Bradou Candido em meus ouvidos, empurrando-me para que me
levantasse e cortejasse a moça. Claro que não fiquei sentado, seria um “covarde”,
iria ele criticar-me. Fui até ela, tremia como um Parkinson... Pensei que iria desmaiar.
Muito exagero, eu sei, mas ela figurava algo divino, como as rosas, diria até
que ela era a rainha de todas elas!
Claro que essa parte da historia posso deixar para outro capitulo
de minha memória, neste agora, digo apenas que esta cafeteria é especial para
mim e para meus compatriotas, deposito nela as minhas melhores lembranças.
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