Tenho flutuado entre as vias do Cosmo Velho a pensar sobre o desatino que me abateu. Sentimento de melancolia profunda, que me revela uma verdade que cabe só mente a mim. Mas, depois de tudo findado o que tenho eu a ver de forma obliquoa as dissimulações de Capitu? Do que me importa, afinal, se a prole soa como meu espelho ou reflete o outro? Além do mais, também estive por ai a andar com Escobar, afogando-me em mar aberto. Não sou eu quem penteia os vastos fios ondulados e negros da dama. Nem sou eu quem admira os detalhes do seu vestido de xita. Não compartilho do ciume do pequeno Bento e nem mais sinto a desconfiança do Casmurro. Então, para que me importar com quem se revelou primeiro? Quem cortou os fios que amarrava a todos? Devo me tornar um ranzinza para a eternidade, excluir-me da vida dos jovens ou posso apenas continuar a caminhar? Se ao vencedor as batatas, e os vermos tudo corrói, posso apenas internar minha própria loucura e como um cão sábio que guia o bebado desvairado, ei de sentar-me na calçada, rir a própria desgraça e de todos que por ventura ão de passar.
Um lugar de poesias, devaneios e epifanias de um jovem escritor. Nada além de rabiscos, textos não editados, vomitados do jeito que saíram da mente, sem edição, nu, como a nossa alma.
quarta-feira, 28 de maio de 2025
segunda-feira, 17 de março de 2025
Armagura debitada
Ah se apenas os problemas financeiros fossem a nossa derrota... Não teria me sentido tão rebaixado, tão cansado e tão desprovido de ações.
Sei bem o que foi...
Quando tu me quis em teus planos, afastando de mim o eu mesmo, perdi a conta nadando contra a corrente, sentindo-me errático, segui fazendo dividas.
Não, ainda que fosse os problemas das finanças, dos parentes, das crianças. Ainda sim, havia o alicerce principal, que a tua língua cortou os gastos, despendendo gorjetas, em um assalto a mão armada, em nervos em meio a ação, deflagrando tiro a queima-roupa.
Não era a língua que me procurava nas caricias do prazer, alias esta vez ou outra se interessava. Não era a língua que me desejava bom dia e trazia-me paz, porque esta vez ou outra se importava. Era a língua da cobrança, sempre um boleto a pagar, o código inteligível, a taxa de juros em tons altos de sua voz. Que me tirava tudo, cada centavo, para que eu mendigasse por afeto, para pedir um empréstimo a quem tudo me tira. Era a língua bruta, nua e crua, como o mercado, o touro indomável de ouro, repleto de papel moeda rasgado ao relento.
E eu que juntei minhas economias de palavras, contando uma por uma em migalhas, para te dizer tudo isso que eu escrevo agora. E até nisso, neste meu eu amargurado e um tanto debilitado, foi-me debitado.