Ah se apenas os problemas financeiros fossem a nossa derrota... Não teria me sentido tão rebaixado, tão cansado e tão desprovido de ações.
Sei bem o que foi...
Quando tu me quis em teus planos, afastando de mim o eu mesmo, perdi a conta nadando contra a corrente, sentindo-me errático, segui fazendo dividas.
Não, ainda que fosse os problemas das finanças, dos parentes, das crianças. Ainda sim, havia o alicerce principal, que a tua língua cortou os gastos, despendendo gorjetas, em um assalto a mão armada, em nervos em meio a ação, deflagrando tiro a queima-roupa.
Não era a língua que me procurava nas caricias do prazer, alias esta vez ou outra se interessava. Não era a língua que me desejava bom dia e trazia-me paz, porque esta vez ou outra se importava. Era a língua da cobrança, sempre um boleto a pagar, o código inteligível, a taxa de juros em tons altos de sua voz. Que me tirava tudo, cada centavo, para que eu mendigasse por afeto, para pedir um empréstimo a quem tudo me tira. Era a língua bruta, nua e crua, como o mercado, o touro indomável de ouro, repleto de papel moeda rasgado ao relento.
E eu que juntei minhas economias de palavras, contando uma por uma em migalhas, para te dizer tudo isso que eu escrevo agora. E até nisso, neste meu eu amargurado e um tanto debilitado, foi-me debitado.